Jornal O Povo – Caderno Ciência & Saúde / Universidade – Fortaleza-CE, 5 de novembro de 2006
Uma equipe formada por professore e estudantes da faculdade de medicina da UFC e médicos do hospital de messejana realizam uma pesquisa sobe a prevalência da anemia em pacientes internados com insuficiência cardíaca congestiva. Em artigo, eles explicam o resultado do estudo.
A insuficiência cardíaca é o estágio final de vários tipos de cardiopatias, que resulta numa disfunção ventricular. Os fatores envolvidos em sua fisiopatologia são: alterações no encurtamento das células musculares e na motilidade das paredes ventriculares; remodelamento estrutural com ou sem dilatação das cavidades; vasoconstricção periférica; retenção de sódio, com consequente congestão; ativação neuro-humoral, liberação de citocinas nas pró-inflamatórias, disfunção enditelial e morte celular.
Apesar de todos os avanços terapêuticos ocorridos no fim da década de 1980 (Inibidores da ECA) e na década de 1990 (beta-bloqueadores e bloqueadores dos receptores da angiotensina II), a mortalidade da insuficiência cardíaca continua elevada. Um fator que pode estar relacionado a esta elevada mortalidade é a anemia.
O conceito que permeia estas condições é a da síndrome da anemia cardio-renal, definida como a concomitância entre anemia, doença renal crônica e insuficiência cardíaca, com inter-relações fisiopatológicas não ocasionais entre as três. A prevalência da anemia na insuficiência cardíaca varia de 2,5% a 61%, com média de 40%. O estudo Adhere, que observou 100 mil pacientes hospitalizados com insuficiência cardíaca, encontrou hemoglobina média de 12,5 g/dl.
O objetivo principal do presente trabalho é determinar a prevalência da anemia em pacientes portadores de insuficiência cardíaca. O objetivo secundário é a pesquisa da: a) relação entre insuficiência cardíaca e insuficiência renal crônica (IRC); b) relação entre anemia insuficiência renal.
No período de 1º de janeiro a 30 de junho de 2005, foram internados no Hospital de Messejana, 197 pacientes adultos com diagnóstico de insuficiência cardíaca. Foi realizado análise retrospectiva da internação destes pacientes através da pesquisa de prontuários. Os pacientes foram divididos em dois grupos: os sobreviventes e os que evoluíram para óbito. Para a comparação dos diversos parâmetros entre os dois grupos foi utilizado o teste do qui-quadrado.
Quando analisamos o grupo total de pacientes internados com insuficiência cardíaca observamos o seguinte: a média de idade foi de 63,2 anos; houve predomínio do sexo masculino. A média da hemoglobina foi de 12,1. Anemia foi diagnosticada em 45% dos pacientes. 82% dos pacientes apresentavam algum grau de insuficiência renal. A fração de ejeção média foi de 42,9% e havia 70% dos pacientes com disfunção sistólica do ventrículo esquerdo.
A principal etiologia de insuficiência cardíaca foi miocardiopatia dilatada (62,7%) e o tempo médio de internação foi de 14,6 dias. Quando comparamos o grupo de pacientes que sobreviveram com o grupo dos pacientes que evoluiram para óbito durante a internação, observamos diferença estatisticamente significativa apenas em relação a porcentagem de pacientes com fração de ejeção inferior a 55% e ao valor da creatinina.
Ao analisarmos a relação da anemia com a função renal no grupo total de pacientes, podemos observar que a anemia foi mais frequente nos pacientes com falência renal, seguida pelo grupo com IRC severa e depois no grupo com IRC moderada.
Com estes dados nós concluímos: 1) É alta a prevalência de anemia entre os portadores de insuficiência cardíaca; 2) A maioria dos pacientes com insuficiência cardíaca apresentam algum grau de IRC; 3) Existe estreita relação entre o grau de anemia e o grau de IRC, expresso por: à medida que progride por grau de IRC, aumenta a prevalência de anemia; a concentração de hemoglobina cai à medida que progride o grau de IRC.
* A equipe que produziu o artigo com o professor Ricardo Pereira Silva é formada pelos estudantes da Faculdade de Medicina da UFC, Paulo Hudson Uchoa Barbosa e Osamu de Sandes Kimura; pelos professores Elizabeth de Francesco Daher, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho e Pedro José Negreiros de Andrade e pelos médicos do Hospital de Messejana, João David de Sousa Neto e Frederico Augusto de Lima e Silva.