Matéria publicada no Jornal “Diário do Nordeste”, em 17 de outubro de 1999
Régis Freitas, 45 anos, abandonou definitivamente o fumo e começou a dar suas caminhadas diárias desde que presenciou, em uma fila de banco, ao seu lado, um homem ainda jovem tendo um ataque cardíaco. Ficou tão apavorado, principalmente porque não sabia o que fazer para ajudar. Régis conta ter sido horrível os prenúncios do infarto, que mal compreendia na ocasião o que se passava, tampouco o próprio homem. “Ele transpirava muito, queixava-se de falta de ar, até que começou a dizer que estava com dores fortes no peito.” Felizmente, o anônimo da fila do banco conseguiu ser socorrido a tempo de ter sua vida salva.
Prevenir o infarto é dever de todo cidadão esclarecido, sobretudo se ele se enquadra no perfil dos indivíduos de risco. O cardiologista Ricardo Pereira Silva, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), diz que até há algum tempo, cerca de 50% dos infartados morriam antes mesmo de receberem algum tipo de ajuda e ao menos terem tempo de chegar ao pronto-socorro. É interessante, acredita, que a população saiba reconhecer o quadro clássico de um infarto agudo do miocárdio para que se possa tomar rapidamente as providências necessárias.
A revista Veja, comenta o especialista, em uma matéria específica sobre o problema, descreveu a dor do infarto como “um chute no peito”. Dr. Ricardo Pereira informa que a dor do infarto do miocárdio é intensa mas não deveria ser comparada a “um chute no peito”. É sentida de forma opressiva, em aperto. Sua localização situa-se na região precordial (região em cima do peito esquerdo) ou em cima do esterno (osso situado na região central do tórax). Há locais para a onde a dor pode se irradiar (“caminhar”), como o braço esquerdo, a mandíbula e o pescoço. Outra advertência do cardiologista: é impossível para o paciente distinguir se está tendo infarto ou se a dor deve-se a angina. Só exame complementares revelarão a especificidade e a gravidade do problema. Em uma ou em outra situação, pontua o médico, o paciente deverá procurar o hospital mais próximo. A angina, explica o Dr. Ricardo Pereira, pode evoluir para infarto. Nem sempre, entretanto, as pessoas que estão infartando sentem dor no peito. A dor pode começar no abdômen, por exemplo, sendo muitas vezes confundida com problemas do aparelho digestivo. Quanto à duração, no infarto, ela costuma ser superior a 30 minutos, na angina ela cede antes de completar esse período, embora ninguém deva esperar todo este tempo antes de procurar ajuda. Outros sintomas que acompanham a dor do infarto são palidez, sudorese profusa, sensação de mal-estar como se a pessoa fosse desfalecer.
Fatores de risco que propiciam o surgimento da doença coronariana são tabagismo, dislipidemia (taxas de colesterol elevadas no sangue), diabetes, obesidade, sedentarismo, história familiar de doença coronariana, stress e hipertensão arterial. Este tipo de doença acomete mais indivíduos do sexo masculino acima dos 50 anos de idade e as mulheres após a menopausa. “Quanto mais fatores de risco, maior a probabilidade de um indivíduo sofrer um infarto”. Uma mulher de 30 anos, magra, não fumante, com pressão arterial e dosagem de colesterol normais, que reclama de pontada no peito dificilmente terá doença coronariana. Este tipo de dor costuma surgir devido à ansiedade.
O que fazer quando alguém está aparentemente tendo um infarto do miocárdio? Esta pessoa deverá ser levada para um hospital mais próximo ou deverá ser chamada uma ambulância para que providencie o seu transporte. O paciente deverá mastigar ou engolir um comprimido de aspirina infantil, pois o ácido acetil salicílico que é a droga contida neste comprimido, atua como anti-agregante plaquetário, aumentando as chances de sobrevida deste paciente. Outro tipo de remédio que pode ser dado em casa a este paciente é um vasodilatador coronariano do tipo “isordil”, que deverá ser colocado embaixo da língua do paciente.
Prof. Dr. Ricardo Pereira Silva
Professor de Cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Mestre pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (ESPM)
Doutor pela Universidade de São Paulo (USP)