Notícia publicada na Revista Pindorama, ano 1, número 02 – Fevereiro de 2008
A condição física do homem moderno está se deteriorando, o que resulta no aumento das doenças degenerativas.
A primeira menção do benefício do exercício físico na doença coronariana foi feito por Heberden, que descreveu o quadro de angina, em 1802. Naquela época, o autor já citava o caso de um paciente que “quase curou” sua angina serrando madeira diariamente.
Os mecanismos pelos quais o exercício físico pode melhorar o prognóstico de eventos cardiovasculares são:
- Redução da trombogênese (através da melhora da fibrinólise e da redução dos níveis plasmáticos de fibrinogênio);
- Alteração do metabolismo lipídico (aumento do HDL);
- Melhora da complacência arterial, resultando em redução da pressão arterial, estabilização da placa aterosclerótica e melhora da função endotelial;
- Melhora da atividade vasomotora das coronárias, aumentando a perfusão miocárdica;
- Efeitos psicológicos como redução da ansiedade e depressão;
- Redução da incidência de morte súbita devido a melhora no tônus vagal e redução da atividade simpática.
Dr. Ricardo Pereira é professor da UFC e cardiologista do Hospital São Mateus
O efeito do exercício físico na redução de eventos coronarianos está associado a uma forte relação de dose-resposta. Os benefícios ocorrem em ambos os sexos e em todas as faixas etárias. Tanto as atividades de lazer como atividades ocupacionais onde se pratica exercício físico têm efeitos benéficos. Os pacientes de mais alto risco requerem níveis maiores de atividade física para receberem o benefício esperado. A melhora da capacidade física é tão eficaz na redução de eventos cardiovasculares quanto qualquer mudança nos outros fatores de risco. Para a prevenção primária, mesmo se os outros fatores de risco não estiverem completamente controlados, o exercício físico exerce um poderoso efeito na redução de eventos.
Segundo a American Heart Association, o tempo mínimo de atividade física para pacientes cardiopatas deve ser de 30 minutos, com a frequência de 3 a 4 vezes na semana. O benefício máximo deve ser alcançado com 5 a 6 horas de atividade física por semana.
Alguns autores acreditam que atividades habituais como subir escadas, trabalho doméstico ou jardinagem podem ter efeitos benéficos semelhantes aos de uma atividade física programada na redução da mortalidade.
“Prescrição de atividade e exercício físicos para pacientes portadores de doença coronariana”
Para a prevenção secundária da doença coronariana, recomenda-se 30 minutos de exercício aeróbico de intensidade moderada na maioria dos dias da semana. Pode-se conseguir este objetivo caminhando numa velocidade confortável, não necessariamente 30 minutos de uma vez mas acumulando 30 minutos ao longo do dia.
- Diretrizes para atividade física
1.1. Atividade física e desenvolvimento de doença cardio-vascular
O risco de treinamento físico supervisionado em pacientes com doença cardiovascular é muito baixo.
1.2. Atividade física e progressão de doença cardiovascular
Treinamento físico muito intenso tem sido associado com aumento no duplo produto (FC x PA sistólica), sugerindo melhora na perfusão miocárdica.
1.3. Atividade física e apresentação da doença cardiovascular
Exercício físico extenuante pode servir como gatilho para infarto do miocárdio, principalmente em indivíduos sedentários.
- Prescrição de exercícios
2.1. Informações necessárias para desenvolver prescrição de exercícios
A prescrição de exercício deve ser baseada no resultado do teste ergométrico máximo. O desenvolvimento de monitores de freqüência cardíaca (FC) por telemetria, a princípio utilizados apenas pelos praticantes assíduos de esporte e depois difundido para os pacientes, permitiu a medida precisa da FC durante o exercício. Sua limitação é que este sistema não registra FC em pacientes com infarto ântero-lateral prévio nem pacientes portadores de bloqueio do ramo esquerdo.
2.2. Avaliação subjetiva do nível de esforço.
Embora menos específico, é possível prescrever exercício físico sem utilizar o TE máximo. A avaliação subjetiva do nível de esforço está relacionada ao gasto metabólico relativo e à FC relativa dos indivíduos. Se o paciente percebe o exercício como “fácil” ou “leve”, ele provavelmente não está se exercitando o suficiente para atingir o benefício máximo que pode ser oferecido pelo exercício. Se o paciente considera o exercício “severo” ou “difícil” ele está se exercitando o suficiente para conseguir bom condicionamento físico mas não deverá passar deste estágio para os estágios seguintes (“muito cansativo” ou “máximo”) porque estará aumentando os riscos de complicação.
2.3. “Teste da conversa”
O fato de o paciente conseguir conversar normalmente enquanto se exercita assegura que ele não está se exercitando em níveis perigosos. Este teste pode ser quantificado, pedindo para o paciente pronunciar um texto de 30 a 50 palavaras após o exercício físico e em seguida se pergunta ao 0paciente: “Você ainda consegue falar confortavalmente”? Se o paciente não responder “sim, então ele está se exercitando em níveis perigosos.
Adaptado da revista “Cardiology Clinics”, cujo tema central é “Exercício na prevenção secundária e na reabilitação cardíaca”.
Prof. Dr. Ricardo Pereira Silva
Professor de Cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Mestre pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (ESPM)
Doutor pela Universidade de São Paulo (USP)