Segundo o Ministério da Saúde, 45 milhões de brasileiros têm pressão alta. O número representa cerca de um quarto da população do Brasil. No Ceará, 30% da população acima de 40 anos sabe que tem a doença e a estatística cresce se considerarmos os que não descobriram ainda. Isso acontece porque a hipertensão arterial é uma inimiga silenciosa que pega muita gente de surpresa por ser assintomática.
Não apresentar sintomas é um problema tanto para a realização do diagnóstico precoce quanto para o tratamento. “Existe uma resistência psicológica muito forte porque o paciente não
Dr. Ricardo Pereira é professor da UFC e cardiologista do Hospital São Mateus
sente nada. Então é muito mais difícil se aceitar doente diante disso”, argumenta o cardiologista do Hospital São Mateus Ricardo Pereira, especialista em hipertensão e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Apesar de raro, algumas pessoas podem sentir sintomas como dor de cabeça, rubor facial, tontura e sensação de mal-estar. A aposentada Ana Gomes, 52, tem pressão alta, uma herança da família. Ela conta que geralmente sabe que está com a pressão elevada quando sente um mal-estar repentino e dores de cabeça.
No entanto, o cardiologista enfatiza que ninguém deve esperar sentir esses sintomas para começar a se preocupar com a pressão arterial. O indicado é, segundo Dr. Ricardo Pereira, fazer, pelo menos, uma aferição da pressão arterial por ano desde a infância. Esse procedimento reduziria o número de casos de pacientes que só descobrem que têm a doença quando estão em estado muito grave.
A ciência ainda não descobriu a causa da hipertensão primária, também conhecida como essencial ou idiopática, que corresponde a cerca de 90% dos casos. Os outros 10% fazem parte da hipertensão secundária que possui uma causa definida. Geralmente, são conseqüências de problemas renais, tumores na glândula supra-renal, estreitamento da artéria aorta e do uso de drogas (como o anticoncepcional).
A população deve estar atenta para um dos principais fatores de risco para o aparecimento da diabetes e hipertensão: a hereditariedade. Além da tendência familiar, os fatores ambientais, como os hábitos alimentares sem qualquer teor nutritivo e rico em sal, a falta de exercícios físicos e a obesidade são fortes indicativos de que a pessoa poderá desenvolver hipertensão.
Para o diagnóstico, é necessário que se faça a medição freqüentemente dos níveis da pressão arterial. Apenas quando ela permanecer alta, sem importar com a hora, o dia ou o tipo de atividade desenvolvida, é preocupante e deve-se ter um controle contínuo. O monitoramento ambulatorial da pressão arterial é o exame que confirma ou não a hipertensão. Para Dr. Ricardo Pereira, a melhor opção para diminuir o número de casos é a realização sistemática de campanhas informativas que alertem a população sobre os riscos causados pela hipertensão. O médico enumera as principais doenças que se desenvolvem quando um hipertenso não regula sua pressão. “Os maiores riscos é a de lesão no rim, causando insuficiência renal e necessidade de diálise, acidente vascular cerebral (AVC), angina e infarto”.
TRATAMENTO – A hipertensão arterial não tem cura. Quando seguido corretamente, o tratamento assegura o controle da pressão arterial, aliando alimentação adequada, exercícios físicos e, nos casos mais graves, medicamentos. De acordo o cardiologista, o primeiro passo é a adequação da dieta alimentar. Nesses casos, é recomendado uma dieta com frutas e verduras ricas em potássio, cálcio e magnésio, a diminuição da ingestão de sal e de carne vermelha, assim como a exclusão de alimentos enlatados.
A redução de peso, em alguns casos, é necessária. O índice de massa corpórea (IMC) deve está menor que 25. Sobre a necessidade de uma atividade física, Dr. Ricardo Pereira recomenda a prática de um exercício aeróbico, a exemplo da caminhada e a natação. E que sempre o paciente seja avaliado por um médico antes de iniciar qualquer modalidade, assim como a drástica redução (ou eliminação por completo) do consumo de álcool e tabagismo.
Para os pacientes com hipertensão severa, cuja pressão arterial é maior que 160 mm Hg por 90 mm Hg, é necessário o uso de medicamentos. Existem quatro tipos de drogas indicada, sendo prescritas de acordo com o peso, idade, sexo e a existência de outras doenças. Segundo o cardiologista, as drogas mais modernas não apresentam efeitos colaterais, assim como as que possuem mais tempo de mercado. Os efeitos mais comuns, embora raros, são inchaço nos pés, rubor facial, tosse e taquicardia.
O tratamento de Ana Gomes é medicamentoso. Recentemente iniciou tratamento para parar de fumar; só que o medicamento prescrito fez aumentar sua pressão. Para manter a pressão sob controle, seu médico prescreveu dois tipos de drogas. “Descobrí a doença logo porque minha família sempre teve casos, embora muitos familiares ainda desconheçam que são portadores de hipertensão”, afirma a paciente.